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Equipe Entrelacer

A maternidade é da ordem do desejo e não do instinto

Por Camila Saboia

Muito se diz sobre o instinto materno, sentimento instintivo, visceral e carnal que a priori, “espera-se” que toda mulher deve ter para “’encarnar” no papel de mãe ou procriadora.


Essa posição perigosa e reducionista da maternidade reforça pressupostos errôneos e ideológicos, nos quais a maternidade vem acompanhada do sentimento de plenitude e de felicidade. Freud ao descrever sobre a sexualidade, relata que o bebê seria uma tentativa de equacionar a falta simbólica regida pela posição de castração vivida por toda mulher, no entanto, ele vai além quando delineia a importância de que para que essa equação seja “ilusoriamente equacionada” é necessário que ela seja atravessada pela ordem de um Desejo!

A psicanálise ocupa seu papel na sociedade ao lembrarmo-nos que a complexidade humana é entremeada por impasses e particularidades soberanas, e a maternidade, portanto, não é excluída desse paradoxo humano; os quadros clínicos de negação da gravidez ou da depressão pós parto evidenciam esse lado obscuro e duro da maternidade.

O psicanalista inglês Winnicott, nos lembra que a um bebê só pode torna-se sujeito quando é carregado e sustentado psiquicamente por uma mãe capaz de entrar num estado de plena identificação com seu bebê, como ele mesmo descreve, estado semelhante ao da loucura (estado de preocupação materna primária) onde ela empresta seu corpo e seu aparelho psíquico para que seu bebê encontre recursos suficiente para desenvolver-se. Essa doação de corpo e de alma é Dura e Penosa!

E caso não for regado pela ordem do querer e do desejo (mesmo que da ordem inconsciente), não há possibilidade do bebê desenvolver-se e tampouco da mãe realizar-se na sua função. Sim! Lembremos, que a função materna não é inata, pelo contrário: ela é construída também pelo seu bebê e por todo entorno que compreende a ordem fantasmática do encontro dos genitores e mesmo das questões transgeracionais de cada um deles, e é isso que determina o lugar do bebê para esta mãe, que antes de tudo é mulher e sujeito Desejante, em toda sua complexidade e no seu direito de fazer ESCOLHAS.

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